Lorde: As Dez Melhores Músicas De Uma Rainha Perdida


    Lorde é uma personagem musical que está sempre tentando estabelecer o próprio reino em algum lugar do "pop", mas que não consegue permanecer em um mesmo território por muito tempo.

    Quando surgiu para o mundo, em 2013, no disco "Pure Heroine", Lorde tentou criar um reinado inspirado no poder do "hip-hop ostentação" americano, mas sem o exibicionismo material de joias, relógios e carros, o que resultou em um mundo sombrio e decadente governado por uma rainha gótica e habitado por jovens que não se sentiam aceitos pela sociedade.


    No segundo álbum, "Melodrama", de 2017, Lorde era a rainha do "pop alternativo", experimentando o máximo de fama, grana e poder que ela queria ter, porém o custo de tanto sucesso foi uma série de músicas sobre angústias e ansiedades amorosas que desequilibraram o reino dela.

    Esses desequilíbrios levaram Lorde para um refúgio, manifestado no controverso disco "Solar Power" (2021), que apresenta uma tribo comandada por ela em uma praia paradisíaca, simbolizando a tentativa de criar um lugar tranquilo e perfeito, longe das sombras do início da carreira e das pressões impostas pelo mundo "pop". Infelizmente, esse reino pacífico e isolado desmorona diante das incertezas em relação ao resto do mundo, e ao próprio futuro pessoal e artístico de Lorde.


    Neste post, vamos conhecer as dez melhores músicas de Lorde, ou melhor, as dez tentativas mais intensas dela criar o próprio reino, sempre poderoso, mas nunca fixado em um território livre da pressão da crítica, do assédio dos fãs, das exigências do mercado musical e das próprias inseguranças de Ella Yelich-O'Connor, mais conhecida pelo seu alter ego chamado Lorde.

    Vamos começar pela triste destruição do reino paradisíaco de "Solar Power" (2021), no décimo lugar.

10º) "Fallen Fruit" ("Solar Power", 2021)

    Balada tranquila, aposta nas vozes do coral que comanda a música. Possui um solo de guitarra e violão muito bom, mantém a canção interessante. Há uma quebra na segunda parte, mas não chega a comprometer a música.


    Apesar de bonita, "Fallen Fruit" fala sobre a deterioração do mundo, que é uma fruta caída prestes a apodrecer, a não ser que seja consumida "sustentavelmente" pela próxima geração da humanidade, e sobre a destruição do reino tribal e paradisíaco que Lorde tentou criar em um lugar isolado e seguro, mas que, mesmo longe dos perigos externos, se transformou em chamas, desespero, fracasso e fuga.

9º) "Team" ("Pure Heroine", 2013)

    Balada repetitiva com percussão feita por palmas. Canção contagiante, mesmo sendo melancólica.


    "Team" fala sobre um reino habitado por jovens cheios de joias no pescoço e acnes no rosto. É um complemento para o grande sucesso "Royals", pois Lorde consegue estabelecer seu reinado com base nos princípios de suas outras músicas, porém já existe a demonstração de um certo cansaço com as exigências do mundo "pop".

8º) "Yellow Flicker Beat" ("Jogos Vorazes: Parte 1", 2014)

    Canção muito interessante que começa com um murmúrio, ganha intensidade pouco a pouco, cria um suspense e explode no refrão. Dançante e dramática, funciona muito bem, mesmo fora do contexto dos filmes da franquia "Jogos Vorazes", que tem "Yellow Flicker Beat" como parte da trilha sonora.


    Percebam que esta é uma das primeiras canções de grande sucesso de Lorde que não fala necessariamente sobre a construção de um reino, mas sobre rebelião e força, tanto física quanto mental.

    É um dos exemplos de que Lorde consegue fazer ótimas músicas quando não está presa a algum tema relacionado a reinos sombrios e decadentes.

7º) "Biting Down" ("The Love Club EP", 2013)

    Outra canção cheia de suspense conduzida por uma batida forte e repetitiva que torna a música hipnotizante. Na parte final, a soma de vozes, percussão e mudanças no tom do sample eletrônico levam a balada ao clímax.


    "Biting Down" fala sobre aumentar a intensidade das experiências da vida, ir direto ao que interessa sem fazer alarde, respirar bem fundo até quase desmaiar, escutar o som ressoar, sentir o coração bater mais rápido. Ou seja, é uma obra-prima sobre ANSIEDADE.

    Mais uma amostra de que Lorde sabe muito bem defender uma música que não esteja ligada à criação de um reino imaginário, mas conectada com um sentimento de aflição angustiante presente no dia a dia de uma "pop star".

6º) "The Love Club" ("The Love Club EP", 2013)

    Música dançante, tem boa batida e uma repetição de vozes envolvente. Melhor do que muitas músicas do álbum "Pure Heroine" (2013).

    "The Love Club" mostra o desejo de Lorde fazer parte de um grupo restrito, enquanto não constrói seu próprio reino. A letra fala sobre se divertir nesse clube privilegiado, mas, ao mesmo tempo, querer sair dele.


    Ser convidado para esse grupo é um "get punched", ou seja, é algo animador e exclusivo, porém doloroso no longo prazo, como um soco de verdade. No clube há inveja, esquecimento das origens, ambição por um "trono" e o desejo de ficar sozinha. Lorde perde o contato com os amigos, mas volta para eles depois de participar desse grupo de elite.


    Reparem que "The Love Club", tanto a música quanto o disco, revelam que Lorde quer ser idolatrada, entretanto ela tem plena consciência dos efeitos negativos desse desejo. Isso vai se refletir em diversas músicas sobre problemas amorosos em "Melodrama", álbum de 2017, e na quarta posição deste post em "Tennis Court", que contém a ansiedade medrosa de Lorde pela fama.

5º) "Perfect Places" ("Melodrama", 2017)

    Canção com batida de hip-hop e vozes duplicadas, criando um resultado envolvente. O refrão é contagiante, faz o ouvinte querer cantar junto, e tem como complemento um bom efeito eletrônico simulando uma "guitarra".


    "Perfect Places" fala sobre sacrificar a saúde física e mental em festas na tentativa de um escapismo, de alcançar um lugar perfeito que, obviamente, não existe.
 
    Mais uma vez, Lorde percebe que a ideia de construir um reino particular, isolado e impecável é uma cilada, porém ela não resistirá ao impulso de construir esse reinado no disco seguinte, "Solar Power" (2021), o que resultará em um fracasso cantado pela própria Lorde e confirmado por crítica e público.

4º) "Tennis Court" ("Pure Heroine", 2013)

    Eletropop minimalista, dançante, misterioso, cria um suspense que explode e se revela em um refrão sinistro.


    "Tennis Court" fala sobre a ansiedade em relação à fama e a preocupação de que o assédio dos fãs estrague a diversão entre amigos, atraia pessoas falsas e leve à decadência e ao fracasso diante dos olhos do público.

    De certa forma, Lorde estava prevendo um desgaste na sua forma de fazer música, o que se provou verdade em "Solar Power" (2021), disco em que, tanto na melodia quanto na letra, há um fracasso em transmitir algo que convença o público, abrindo espaço para comentários referentes à sua decadência artística.


3º) "400 Lux" ("Pure Heroine", 2013)

    Um som parecido com trombetas e sirenes avisa que algo grandioso está começando, mas o que surge na sequência é uma balada melancólica, linda e irônica. O teclado soando como um órgão de igreja indica algo sagrado, porém o Sol se põe; o ritmo é levemente dançante, entretanto há um ruído revelando angústia e tensão nesta música.


    "400 Lux", medida de luminosidade equivalente ao nascer e ao pôr do sol em um dia claro, é uma ode ao subúrbio de uma cidade de primeiro mundo, uma exaltação às casas todas iguais umas às outras, ao padrão de vida confortável e medíocre, ao tédio combinado com amor e excitação, ao marasmo agradável que sustenta o "sonho médio".

O subúrbio de primeiro mundo, onde todas as casas são iguais e tudo é um tédio adorável.
O subúrbio de primeiro mundo, onde todas as casas são iguais e tudo é um tédio adorável.

    Todas essas contradições e paradoxos em "400 Lux" e nas demais músicas do início da carreira de Lorde revelam uma artista interessante, com uma mensagem que conquistou o mundo, mas que se perdeu em seu esforço bobo de querer ser famosa e na falta de percepção de que o poder decorrente da fama é traiçoeiro.

2º) "Royals" ("Pure Heroine", 2013)

    Eletropop minimalista, não é dançante, mas prende a atenção. Um estalar de dedos é a percussão, o baixo é um tom eletrônico e isso basta. É quase um rap, quase um "Gospel de Subúrbio".


    "Royals" é um delírio sobre diamantes, vergonha do próprio endereço, vida de "rock star", de "rapper bling-bling", cristais, aviões, tigres em correntes de ouro.

    Lorde e seus amigos querem ser da realeza, entretanto sentem que isso não é para eles, que são do subúrbio. Ela quer ser a abelha-rainha, ser o centro das atenções dentro de uma fantasia repleta de festas e diversão, mas sem o dinheiro necessário para tanto. Lorde sabe que não será da realeza, pois isso não corre no sangue dela, porém quer ser adorada como a líder de um reino.


    A soma dessas contradições e paradoxos é um sonho pela metade, pois é impossível para Lorde e seus amigos alcançarem o padrão de vida dos "rappers" americanos que se exibem na TV com mansões, carros potentes e joias caríssimas. O que sobra é brincar de ser poderosa sem esses recursos, liderando os amigos do subúrbio como se eles fossem abelhas de sua colmeia ou súditos de seu reino.

1º) "No Better" ("No Better", Single, 2013)

    "No Better" é a música da Lorde que mais se parece com o "trap" e o "rap" que motivaram a sua fantasia de construir um reino com o poder da ostentação do "hip-hop", mas sem o exibicionismo material desse estilo de som.

    O resultado é uma série de batidas dançantes e envolventes que fazem referência ao "rap", porém a canção aborda temas da adolescência em vez do exibicionismo "bling-bling" de joias, diamantes e outros elementos que deram origem a "Royals" e impulsionaram a carreira de Lorde.


    Quando não está preocupada em ser a "Rainha do Subúrbio", Lorde se aproxima do "hip-hop" acrescentando uma batida mais dançante a sua música e escreve uma letra mais interessante e gostosa de ser ouvida. Lorde parece funcionar melhor quando não quer ser Rainha, mas apenas "Ella" mesma.

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    Essas são as 10 melhores músicas da Lorde, de acordo com o Ouvindo Notas. Concordou com a lista? Achou absurdo alguma canção ter ficado de fora? Se surpreendeu com alguma faixa desconhecida? Comente aqui no blog!

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Em resumo, estas são as dez melhores músicas da Lorde:

1º "No Better";

2º "Royals";

3º "400 Lux";

4º "Tennis Court";

5º "Perfect Places";

6º "The Love Club";

7º "Biting Down";

8º "Yellow Flicker Beat";

9º "Team";

10º "Fallen Fruit".

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As melhores músicas da Lorde estão nesta playlist: 



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