Antropoceno: Samba Infernal, Rock Celestial
Antropoceno - "Terra do Fogo" / "Sincretismo" (Longinus Recordings)
Death Samba / Dream Samba (Samba Ambientalista Experimental) - São Paulo / SP
O projeto sonhos tomam conta, que lançou um dos melhores discos de 2024 de acordo com o Ouvindo Notas, foi aposentado pela sua criadora, Lua Viana, e renasceu sob o nome Antropoceno, utilizando a consagrada mistura de Samba com Shoegaze para criar novas combinações sonoras.
O objetivo do novo trabalho é apresentar um "samba experimental ambientalista", que surge na forma de dois EPs lançados agora no início de 2025.
O primeiro álbum se chama "Terra Do Fogo" e simula o sufocamento decorrente das fuligens e fumaças causadas pelas queimadas que ocorrem durante o inverno brasileiro, período quente e seco que, nos últimos anos, tem apresentado inúmeros focos de incêndios suficientes para destruir brutalmente biomas importantes como a Amazônia e o Cerrado e intoxicar as grandes capitais do Brasil, colocando metrópoles como São Paulo no ranking das cidades mais poluídas do mundo.
Musicalmente, a Antropoceno simula essa asfixia ambiental criando belas melodias de Samba que são atacadas por uma mistura desgraçada de Crust Punk e Death Metal que engolem a beleza dos acordes e transformam as letras altamente politizadas em manifestações de dor e ódio repletas de gritos e urros, incomodando o ouvinte tanto quanto a violência do fogo machuca a fauna e a flora, enquanto a fumaça venenosa destrói os nossos pulmões.
O segundo disco se chama "Sincretismo" e se afasta do Death Samba Metal do primeiro EP, aproximando-se do "Samba-Shoegaze" da sonhos tomam conta por meio de um "Dreampop-Samba", ou seja, um Samba com guitarras e texturas sonoras que criam uma canção mágica, celestial e mais acessível que a violência dos urros, percussões brutais e riffs delirantes do primeiro álbum.
Nesse caso, são apresentados personagens que fogem da realidade tóxica do agrobusiness brasileiro rumo a uma jornada de autoconhecimento, utilizando o que sobrou da natureza para se reorientar dentro do mundo e encontrar algum sentido na vida.
Para isso, Antropoceno utiliza belas versões de clássicos do Samba, como "Preciso Me Encontrar", de Cartola, ainda com o sufocamento causado pela fúria do Death Metal, mas escapando dessa situação cruel da mesma forma que um animal machucado foge de um incêndio.
Depois, o "Dreampop Samba" cria uma ótima versão de "Canto de Ossanha", de Baden Powell e Vinícius de Moraes, na qual, após a fuga, enfrentamos a insegurança de seguir adiante em um caminho cheio de novos amores e novas dores.
Na sequência, Nelson Cavaquinho é convocado, em um cover de "Juízo Final", quando o Amor transforma o Apocalipse inevitável em uma esperança por dias melhores, seguido pela versão mais bonita presente nos dois EPs: "Tudo O Que Você Podia Ser", de Milton Nascimento no Clube da Esquina, que, devido a inovação do "Dream Samba" de Antropoceno, ganha ótimos riffs de guitarra que renovam esse clássico da Música Brasileira.
Somando os dois EPs, "Terra Do Fogo" nos coloca dentro do desespero político e ambiental de um Brasil incendiário, seco e ganancioso, enquanto "Sincretismo" recicla nossa esperança por meio de fugas existenciais e sonhos sensíveis, necessários para conseguirmos respirar ar limpo e enxergar algum futuro sustentável neste céu que, a cada ano, se parece mais com o Inferno.
Playlist do Post: Antropoceno: Samba Infernal, Rock Celestial
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