Os 10 Melhores Álbuns de Rock Brasileiro em 2023
O Rock Brasileiro foi renovado em 2023 por grupos estreantes defendendo Punk, Psicodelia e Shoegaze, ao mesmo tempo que nomes veteranos retornaram com ótimos exemplos de Pop Rock e a combinação de elementos da música brasileira com o "Rock'N'Roll" criou um som poderoso que representa o país todo, além de abrir novos caminhos para o Rock Brasileiro explorar.
Todas essas novidades e retornos estão aqui na lista do blog Ouvindo Notas com "Os 10 Melhores Álbuns de Rock Brasileiro em 2023".
Vamos começar esta lista com uma banda que você conhece e está ansiosa em te reencontrar.
Pato Fu - "30"
Pop Rock - Belo Horizonte / Minas Gerais
Depois de um tempo criando ótimas "Músicas de Brinquedo", o Pato Fu lança seu novo álbum, intitulado "30", retornando para a sua linguagem Pop Rock voltada para quem já passou por poucas e boas e entende que a vida não é tão doce quanto deveria ser.
O pouco de doçura que conhecíamos se perdeu durante o período pandêmico, no qual tivemos que nos isolar e conviver com os absurdos do (des)governo covarde e do fanatismo religioso que sustentaram o neofascismo brasileiro dos últimos anos.
Porém, a experiência do Pato Fu permite que a banda transforme limão em limonada, entregando músicas ácidas, como "Silenciador", sobre o falso Cristianismo transformando a palavra de Deus em uma arma perigosa, e canções docinhas, no caso de "A Besta" e "Curral Mal-Assombrado", que fazem uma divertida análise sobre a imbecilidade dos líderes conservadores brasileiros e seus seguidores trouxas.
Mesmo com temas tão pesados, o Pato Fu consegue criar novas pérolas do Rock Nacional, nas faixas "Fique Onde Eu Possa Te Ver" e "Dias Incertos", falando sobre as angústias que sofremos durante a pandemia e a falta de esperança dos dias atuais, mas com um sabor Pop tão delicioso quanto goiabada com queijo minas.
terraplana - "olhar pra trás"
Shoegaze - Curitiba / Paraná
Algumas teorias afirmam que o Rock morreu, pois não há bandas interessantes no cenário brasileiro e tudo se resume a uma situação plana, sem novidades que se destaquem no horizonte do Rock Nacional.
No entanto, ótimos nomes do novo Rock BR estão surgindo em todo o país e uma prova disso é a terraplana, grupo de Curitiba que, defendendo o Shoegaze no seu disco de estreia chamado "olhar pra trás", desmente os negacionistas que ignoram a realidade do Rock Brasileiro.
De fato, o Shoegaze é um dos estilos de Rock com mais chances de garantir o futuro desse gênero baseado em guitarras, seja no exterior ou no Brasil, graças a sua intensidade sonora combinada com a beleza de suas canções. Para se ter uma ideia, bandas como Oasis e Smashing Pumpkins são dois exemplos clássicos entre diversos grupos que utilizaram essa "força musical" para representar o Rock Indie e depois alcançar sucesso nos quatro cantos do mundo.
Esse poder sonoro sustenta a terraplana, mesclando guitarras potentes, melodias arrebatadoras e um vocal hipnotizante em canções intensas orbitando em torno do Rock dos anos 90 e do atual "Rock Triste", que exerce uma força gravitacional irresistível no público mais jovem e melancólico.
Comprovando a teoria de a terraplana é o futuro e a renovação do Rock Nacional, não se limitando apenas ao Shoegaze, vale a pena ouvir a faixa "cais", inspirada na música de mesmo nome do Clube da Esquina, grupo dos anos 70 que é referência obrigatória para quem quiser compor canções de ótima qualidade no Brasil e que lançou um dos 50 melhores discos da história do Rock Latino, de acordo com a revista Rolling Stone.
Com o terreno pronto para criar formatos mais interessantes dentro do Rock Brasileiro, ao mesmo tempo que compõem músicas iluminadas pelas estrelas do passado, a terraplana faz parte de um novo universo sonoro nesse planeta inóspito chamado "Rock'N"Roll".
Quem discordar estará redondamente enganado.
Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo - "Música do Esquecimento"
Rock Indie - São Paulo / SP
Uma das bandas mais criativas do novo Rock Nacional atende pelo longo nome de Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo, adiantando o futuro do Rock BR e dando um "tchan" nesse gênero musical que, na dúvida, prefere ser atrasado e previsível.
Sophia e sua enorme perda lançaram o segundo disco da carreira, "Música do Esquecimento", com vários exemplos maravilhosos de Pop Rock Indie, como nos casos das faixas curtinhas "Neurose" e "Minha Mãe É Perfeita", que possuem menos de dois minutos de duração cada uma, enquanto "Quem Vai Apagar a Luz" e "Segredo" gastam mais o nosso tempo, mas são duas sérias candidatas ao posto de melhores músicas do Rock Brasileiro em 2023.
Do outro lado, Sophia e a banda investem em baladas sofisticadas e melancólicas, sempre com versos inusitados garantindo o alívio cômico necessário para que as canções não se tornem um tempo perdido. É o caso da hipocrisia fofa da faixa "As coisas que não te ensinam na faculdade de filosofia", complementada pelo devaneio bíblico com trombones e flautas em "No princípio era o Verbo" e por músicas carinhosamente tristes como "Time to say goodnight" e seu piano mágico e encantador.
Assim, misturando Pop Rock Indie crocante com baladas carameladas, Sophia e Uma Enorme Perda de Tempo vão conseguir dar aquele "Chablau" necessário para transformar a receita sem graça do Rock atual em algo muito gostoso.
Congadar - "Morro Das Três Cruzes"
Afro Rock - Sete Lagoas / Minas Gerais
O grupo mais interessante da cena atual do Rock e da Música Brasileira se chama Congadar, banda de Sete Lagoas, Minas Gerais, representando o Congado, manifestação popular que une os elementos das religiões de origem africana e do Catolicismo praticados no Brasil desde o período colonial.
Essa fusão religiosa é construída musicalmente unindo a sonoridade dos festejos do Congado, simbolizado por caixas (tambores) e arranjos vocais, com a estrutura de uma banda de Rock, formada por bateria, baixo e guitarra, criando uma base musical que potencializa o som original folclórico que está na essência do Congadar.
Após lançarem o melhor álbum brasileiro de 2022, o Congadar mantém a ótima qualidade de suas músicas em um novo trabalho, o EP "Morro Das Três Cruzes", com quatro músicas que exemplificam muito bem o tipo de som e de mensagem que o grupo defende.
A canção que batiza o álbum, "Morro Das Três Cruzes", traz no seu título uma referência dupla à crucificação de Cristo e ao calvário negro de escravizados que eram mortos nesse morro em Sete Lagoas. A letra dessa música é uma súplica aos orixás para que protejam o negro contra o racismo e suas diferentes formas de violência.
Em "Benção Prá Vovó", encontramos uma faixa com um apelo contagiante, dançante, um refrão que fica na cabeça, enquanto somos benzidos por uma mistura de terços cristãos, fumaças e banhos de ervas, complementada por "Tranças Nagô", uma canção muito bonita que mostra o cabelo não apenas como uma questão estética, mas como a representação de uma herança histórica de lutas e conquistas e de proteção espiritual.
Fechando o EP, "Suínos Senhores" dá aquela bronca nos líderes estúpidos defensores da hipocrisia patriota responsável por prejudicar a diversidade que sustenta as melhores características do Brasil.
Com tantas mensagens embaladas por uma sonoridade forte e comovente, o Congadar, colocando Rock no Congado, de uma forma parecida com a Nação Zumbi, que somou Rock ao Maracatu, é um dos nomes mais bacanas do futuro da Música Brasileira.
Que os Santos e Orixás os abençoem.
Garotas Suecas - "1 2 3 4"
Rock Indie - São Paulo
Após muito tempo sem lançar um novo trabalho, o Garotas Suecas está de volta com o disco "1 2 3 4", relembrando os bons tempos da antiga MTV e expressando as mudanças que ocorreram no Brasil desde o fim daquela emissora e do surgimento de estranhas manifestações sociais antes e depois do "7x1" em 2014.
O som refrescante do Garotas continua existindo graças a mistura de Rock, Funk e Disco, que traz um sabor dos anos 60 e 70 para um álbum entregue em 2023.
Essas referências sonoras sofreram o impacto da pandemia e do neo-fascismo que atacaram o país recentemente, tornando menos colorida a alegria típica das músicas do Garotas. O resultado é o surgimento de canções sérias, mas muito bonitas e simpáticas, como "Não tá tudo bem", "What U want" e "Como é que pode".
No entanto, a tensão resultante dessa seriedade abre espaço para a cura sonora com a Psicodelia terapêutica de "Podemos Melhorar" e "Todo Dia É Dia De Mudança".
Depois de tantas situações malucas vividas no Brasil, é importante perceber que o Garotas Suecas não perdeu a irreverência ao criticar a hipocrisia urbana na faixa "Gentrificação" e o talento para fazer músicas dançantes como "Tire Seus Dedos", uma das faixas mais bacanas do Rock Brasileiro atual.
Tropical Nada - "Tropical Nada"
Blues Rock, Stoner, Rock Indie - Espírito Santo
Daniel Furlan, humorista conhecido pelo programa Choque de Cultura, em que ele encarna Renan "Towner Azul Bebê", um dos maiores nomes do transporte alternativo brasileiro, estreou seu projeto musical Tropical Nada, que é uma espécie de continuação do tipo de comédia que ele pratica.
O disco Tropical Nada, que batiza o grupo musical de Daniel, utiliza diferentes formas de Blues e Rock para mostrar o quão contraditório é o amor, por meio de canções românticas com títulos sinistros como "Ontem Eu Tive Um Pesadelo Com Você" e "Você É Um Piano Caindo Do Topo De Um Prédio Em Cima De Mim".
"Beijo de Saliva" é a faixa que abre o disco com um refrão de entrega amorosa que diz repetidamente "Cospe em mim", enquanto o destaque do álbum é uma música emocionante contando uma relação de exigências e desprezos chamada "Não Vale Nada".
Dentro dessa selva de contradições e paradoxos amorosos, o que precisamos fazer é ouvir o Tropical Nada da mesma forma que vivemos um amor intenso, transformando dores em belezas e rindo para não chorar.
Refugiadas - "Refugiadas"
Punk - São Paulo / SP
O ano de 2023 foi marcado pela continuação de guerras na Europa e por novos conflitos no Oriente Médio que provocaram o deslocamento de inúmeros refugiados. Porém, também é possível ser refugiada no seu próprio lugar de origem, quando seus adversários utilizam como armas o machismo, o preconceito e a estupidez típica dos conservadores de extrema direita.
Esse sentimento de perseguição é a principal inspiração da banda Refugiadas, novo grupo de Punk Feminino da cidade de São Paulo, que baseia seu som em grandes nomes como Ramones, Dead Kennedys, Mercenárias e Cólera.
O disco de estreia delas, autointitulado Refugiadas, possui broncas contra o (des)governo que tentou destruir o país durante a pandemia, nas músicas "Plano de Morte" e "Sistema de Fome", e críticas ao machismo, em "Padrões de Beleza" e na divertida "Mulherão".
Além disso, sabendo que no futuro todos os povos humanos se tornarão refugiados por causa das mudanças climáticas, a banda defende a história e a importância ambiental das populações indígenas na faixa "Povos Originários", música importante para 2023, ano em que vimos Yanomamis delirando de fome na maior floresta do mundo.
Lô Borges - "Não Me Espere Na Estação"
Pop Rock, Soft Rock - Belo Horizonte / Minas Gerais
Lô Borges é um dos nomes mais importantes do Rock Brasileiro. Ele foi integrante do Clube da Esquina, grupo que possuía nomes como Milton Nascimento e que lançou um disco fundamental para a história da música brasileira, considerado um dos 50 melhores álbuns de Rock Latino de todos os tempos, de acordo com a revista Rolling Stone, e referência para quem quiser compor músicas de qualidade no Brasil.
O Clube da Esquina foi, por exemplo, uma inspiração importante para bandas como o Skank, que utilizou "Trem Azul", o maior sucesso de Lô Borges, para criar "Resposta", grande "hit" da banda de Samuel Rosa.
Com mais de 50 anos de carreira e 70 de idade, Lô Borges vem lançando um disco inédito a cada ano, desde 2019, e, em 2023, entregou o disco "Não Me Espere Na Estação", com ótimos exemplos de como fazer Rock Brasileiro em Português.
"Brilho do Entardecer" é um Rock que tem o estilo necessário para tocar nas rádios e liderar playlists nos aplicativos de música; "Constelação" tem a mesma pegada, mas com um ritmo que lembra "Billie Jean" do Michael Jackson; "Nos Braços Do Pôr Do Sol" e "Flutuar" são baladas psicodélicas muito bonitas e "Setentones" encerra o álbum com uma faixa instrumental inspirada em Jimi Hendrix e Jimmy Page (Led Zeppelin).
Tem muito mais de onde isso veio, pois Lô Borges, que tem o hábito de compor músicas todo dia, já tem material pronto para mais três discos inéditos, que serão lançados em 2024, 2025 e 2026.
Pelo visto, o trem de Lô Borges ainda tem muito para trilhar. Não vamos perder a viagem!
MONCHMONCH
Punk Eletrônico, Psicodelia Gótica - São Paulo / SP
O trabalho mais ácido e provocante de 2023 foi a estreia do MONCHMONCH, artista de São Paulo que trouxe para a cena musical um forma diferente de Rock Alternativo.
A melhor forma de entender o MONCHMONCH é imaginar uma máquina suja e enferrujada com vontade própria mastigando Punk Psicodélico e expelindo músicas gosmentas e corrosivas que causam nojo e ansiedade.
Essa ânsia é consequência da vida nas grandes cidades, uma experiência mais parecida com uma doença crônica do que com algo saudável e feliz, criando um desconforto manifestado em cada música do MONCHMONCH na forma de Punks Eletrônicos e Psicodelias Góticas.
Alguns exemplos disso são "Netuno", uma faixa que transmite um sentimento de pressa, perseguição e desespero em um Synthpunk que parece uma versão maluca eletrônica de "Bat Macumba" dos Mutantes e Gilberto Gil, e "Scatacumba", que se passa em uma metrópole hipócrita, onde sonhos destruídos se tornaram chuva de excrementos na população alienada e derrotada, uma canção psicodélica sombria e sinistra com o mesmo humor cínico de "Tudo vira B*sta" de Rita Lee e a energia ameaçadora de "Bichos Escrotos" dos Titãs.
Entre escombros soterrando reis orgulhosos e prédios nojentos habitados por perdedores fazendo bullying, MONCHMONCH esfrega na nossa cara um tipo de Rock sujo que derrete as contradições sociais e escorre as mentiras esgoto abaixo.
Águas - "Aquaplanagem"
Rock Instrumental, Pós-Rock, Rock Rural, Rock Progressivo - São Paulo
O Rock é tratado atualmente como algo flutuando em uma poça rasa e lamacenta cheia de bandas repetitivas que insistem em utilizar os mesmos truques e clichês que poluem esse tipo de som.
Entretanto, no interior de São Paulo, surge uma nova nascente musical que pode lavar essa poça poluída com novas substâncias sonoras capazes de renovar o Rock Nacional e transbordar o estilo para fluxos musicais mais refrescantes.
Águas é o nome dessa fonte de som, composta por um grupo de amigos que, discretamente, lançaram seu primeiro disco, batizado "Aquaplanagem", com várias ideias que adicionam outros sabores ao Rock que bebemos todo dia.
O diferencial do grupo é diluir na mistura de guitarras e bateria referências ao Rock Rural, combinando a música caipira com guitarras típicas do Rock, e elementos do Pós-Rock, construindo paisagens sonoras instrumentais intensas, bonitas e divertidas.
Além disso, Águas conseguem fluir do Rock Progressivo ao Samba Clássico, graças a belos arranjos liderados por flautas e clarinetes parecidos com o som que podemos encontrar tanto no Jethro Tull, no álbum "Aqualung", quanto em canções do Cartola.
Se o Rock Nacional não quiser mais ficar preso em um buraco limbento, precisa beber em outras fontes para continuar navegando. O refresco que Águas está oferecendo é o elixir para que o Rock BR enxague seus clichês e encontre novos oceanos para explorar.
Playlist do Post: "Os 10 Melhores Álbuns de Rock Brasileiro em 2023"
Confira também:
"Os 20 Melhores Álbuns Brasileiros de 2023"
"Os 20 Melhores Álbuns Internacionais de 2023"
===============
Visite o meu perfil no Spotify: Júlio César Camarini
Twitter: @JulioCamarini
Instagram: @juliocamarini
Facebook: Júlio César Camarini
Até a próxima!
~~~~~~~~~~~~~~~
Comentários
Postar um comentário