Maré Tardia: Ondas Perfeitas de Surf Punk

junho 01, 2025

Maré Tardia - "Sem Diversão Pra Mim" (Deck)

Surf Punk, Surf Rock, Indie Rock - Vila Velha / Espírito Santo

Depois de alcançar a medalha de prata na lista com Os 50 Melhores Álbuns de Rock Brasileiro de 2022 aqui no Ouvindo Notas, graças ao ótimo álbum de estreia, o Maré Tardia volta a remar rumo ao topo com seu novo disco, chamado "Sem Diversão Pra Mim".

Apesar do título, o novo disco da banda de Vila Velha, Espirito Santo, continua tão divertido quanto o primeiro álbum e outros EPs e singles lançados por eles nos últimos anos.

O título, na verdade, expressa um romantismo frustrado, típico de quem criou muitas expectativas amorosas, tomou um caldo e agora precisa voltar para areia com a dose certa de ironia e rancor para criar canções de amor.

Essas canções são envolvidas em um tubo de Surf Punk, com influências nítidas do Surf Rock clássico anos 50 e 60 e do Punk anos 70, com algumas marolas do Indie Rock anos 2000 e do Hardcore capixaba, que parece ser a base de onde a Maré Tardia tira sua onda.

"Leviatã", a monstruosa faixa que abre o disco, tem uma melodia de guitarra tão acelerada quanto a do famoso clássico "Miserlou", de Dick Dale, um dos maiores nomes do Surf Rock, algo que também acontece pontualmente com a canção "Tarde Demais".

Navegando pelo álbum, encontramos a paradisíaca faixa "Já Sei Bem", que poderia ser uma música dos Ramones, caso Nova Iorque ficasse entre o Rio de Janeiro e a Bahia, enquanto a faixa-título "Sem Diversão Pra Mim" dispara e acerta em cheio nos Sex Pistols.

Uma das melhores músicas de 2025, "Azur", lembra aquele Arctic Monkeys raiz do qual temos tantas saudades, sentimento bom que também aparece quando ouvimos "Não Se Vá" e "Nunca Mais". Algo parecido surge ao escutarmos "Nada Vai", que nos empurra para os primeiros trabalhos dos Strokes.

Defendendo a origem capixaba, o Maré Tardia nos oferece "Junkie Food", um bombom delicioso recheado com o Hardcore ácido dos conterrâneos Mukeka Di Rato e Dead Fish.

E, no meio de tantas ondas sonoras, uma se destaca no horizonte: "Ian Curtis", música que faz referência ao lendário líder do grupo Joy Division, tem um comecinho e um andamento que se parecem com "Love Will Tear Us Apart" e possui uma letra que pode ser interpretada como um fim de relacionamento, em que nada sobrará para quem sonhou demais, ou uma insegurança em relação ao sucesso, pois ninguém nessa banda capixaba é um ídolo do Pós-Punk inglês, nem um surfista medalhista olímpico, mas, apesar disso, o Maré Tardia tem o equilíbrio ideal, entre angústia e sonho, para não cair da prancha e surfar ondas perfeitas nas praias do futuro do Rock.